Obama e o Médio Oriente

Bom discurso ontem!

Obama tem esta vantagem: é capaz de mostrar a cara mais moderada dos EUA, e tem um “charme político” sem rival. Agora, vamos ver como converte as palavras em “policy”.

Sim, porque não nos vamos esquecer da história. A “Doutrina Bush” não foi inovadora, era apenas a recuperar do “corolário [Theo] Roosevelt da Doutrina Moore” – o conceito de capacidade preventiva de ataque para preservar a segurança nacional dos EUA. É um conceito velho na política externa norte-americano.

Agora, a real politik [peço desculpa aos idealistas, deste lado fala um “realista”]:
Este discurso não resolve 2 problemas… ou melhor, 2 faces de um problema.

Irão – A potência regional que não está a jogar para ser amigo dos EUA. Está a jogar para dominar a região. E tem de ser contido! Um Irão nuclear não é um contrabalanço “racional” a um Estado de Israel nuclear. É o desequilíbrio total num barril de pólvora.

Israel – É preciso entender a doutrina das Forças de Defesa de Israel. Garantir a todo o custo a sobrevivência do Estado de Israel – em especial contra um país que já declarou várias vezes que não reconhece esse direito ao estado judeu. Por todos os meios possíveis! No dia em que eles se virem amarrados contra um Irão quase Nuclear, eles vão tentar bloquear isso, isolados se for preciso. M.A.D., mutual assured distruction, não funciona como inibidor de conflito Irão-Israel, pela simples assimetria das capacidade de reconstrução de cada um dos lados – inexistente no caso de Israel. (Mas isso os autores do The Westphalian Post,  saberão explicar dez vezes melhor que eu).

Palavras são bonitas, mas é preciso converte-las em acções que mostrem seguimento. É um pouco como o Eixo Coreia do Norte-Coreia do Sul-Japão.

A Coreia do Norte anda cada vez mais beligerante a testar armas com cada vez mais potência. A Coreia do Sul junta-se ao acordo de não proliferação atómica que o Norte vê como “acto de Guerra”. O Japão cada vez mais desconfortável pensa seriamente abolir a sua constituição pacifista e rearmar-se face à ameaça. A China ve-se na desconfortável posição de principal apoiante da Coreia do Norte, mas compreensiva perante os receios sul coreanos e japoneses, seus parceiros comerciais.

Uns EUA ausentes – ou com meros discursos bonitos – terão como efeito que a região tomará para as suas próprias mãos a resolução do conflito… com todo o “fel histórico” de séculos de conflito que vem com isso.

Um pouco menos de idealismo e um pouco mais de realismo precisa-se nas relações internacionais!

Democracia, abstenção e problemas de agência

“It has been said that democracy is the worst form of government except all the others that have been tried.”

Sir Winston Churchill

Eu acho piada que se veja a subida dos partidos de extremo como sinal que é “necessário impor certos limites” ou “não tolerar que um político eleito diga o que pensa”. Ou que a abstenção é “preguicite aguda e praia a mais”. Este tipo de raciocinios é comum, nestas alturas do ano, quando nos aproximamos das eleições.

Lamento, mas não é! É sinal de que as pessoas estão muito descontentes com o Estado de Coisas. O “vulgo” Centrão!

É fácil dizer que a “abstenção é vergonhosa”, que é preciso responsabilizar os vontantes, uma carta de principios, voto obrigatório, pelo meio restringir alguns discursos mais extremistas ou politicamente incorrectos, pois não podemos deixar que o eleitor se “desvie da mensagem que deve ouvir”, enquanto se dirige à urna como está mandatado na lei e nos princípios do eleitor.

A Democracia tem o que se chama em economia “problemas de agência”, i.e., os incentivos de quem governa nem sempre coincidem com os incentivos de quem é governado. (para os mais curiosos, chama-se “problema Principal-Agente”, o Agente delega poderes no Principal para função A, o Principal age em proveito próprio B).

A Democracia é, no limite, um “mercado político”, e há muito que sabemos que problemas de agência destroem mercados. (para os mais economistas, lembrem-se: Limões e carros usados!).

As pessoas estão a votar nos extremos ou a abster-se pois é a única forma que têm de tentar “forçar o sistema”! Os extremos são a resposta do “mercado político” à falta de opções e acções correctivas ao centro. Pelo menos num sistema “proporcional”. Num sistema uninominal, o eleitor tem muito mais poder para conseguir fazer passar a sua mensagem, e reduzir os problemas de agência.

E enquanto não entender-mos isto (que não é a obrigar as pessoas a votar que vamos lá, pois isso é sintoma, não a doença), vamos andar aqui muito tempo, com os extremos a subir! No limite, market failure!