Wake up call!!

Fernando Nogueira (1995-1996)

Marcelo Rebelo de Sousa (1996-1999)

José Manuel Durão Barroso (1999-2004)

Pedro Santana Lopes (2004-2005)

Luís Marques Mendes (2005-2007)

Luís Filipe Menezes (2007-2008)

Manuela Ferreira Leite (2008-)

Quanto tempo mais vamos ter de ir às urnas e ser humilhados para entendermos a mensagem do eleitorado?!

Quantos mais anos vamos ter de ficar fora do Poder para entender-mos que estamos com um problema, não de lideranças mas de estrutura do partido?!

Quantos mais sinais são precisos para acordar este partido!? Com uma população que não gosta do PM, perdemos. Com umas eleições que não contavam para “cartões amarelos”, e onde a líder não aparecia tanto, passamos de 47 câmaras para apenas 9 municipios de vantagem, incluindo surpresas como Leiria!

Quanto mais tempo vai este partido demorar a entender que o problema é estrutural, endémico, ultrapassa muito a liderança da CPN (já vamos em 7 lideres em 14 anos com resultados semelhantes, fora Durão que todos sabemos como essa história acabou!).

Quanto mais tempos vai este partido demorar a entender que os portugueses se recusam, por muito mal que esteja o país, a votar num partido de puros pragmáticos, que fazem política mas não reflectem política, sem ideologia minimamente definida, um partido que passa a imagem de ser do Poder, pelo Poder e para o Poder?

Antes de começar-mos a afiar as facas para ver quem vai ser o próximo líder, temos de pensar que partido queremos! Auto-reflexão exige-se! Já!

(Publicado originalmente no Psicolaranja)

Refundação…

Este post poderia facilmente chamar-se “A deriva do PSD“. Não é recente. Não me refiro a Manuela Ferreira Leite, a Santana Lopes ou a Luís Filipe Menezes. Esta questão ultrapassa em muito qualquer liderança. É neste momento, endémica ao partido.

Desde 1995, o PSD apenas governou 2 anos e meio. Façam as contas: em 14 anos, desde as maiorias de Cavaco Silva, o PSD esteve fora do Governo mais de 11 anos. Normalmente este é o argumento utilizado para focar um ponto: a estagnação da última década é consequência de sucessivas governações socialistas. Talvez, mas a verdadeira lição a tirar não é essa, mas sim, porque é que o Povo português insiste em não confiar em nós?

Podemos usar os argumentos faceis do costume: “O povo foi estupido ontem”, a politica é à base de “pão e circo” ou “cada povo tem o governo que merece”. Não concordo com alguns companheiros de blog nesta questão: Se a mensagem não passou, a culpa também recai – e muito – no mensageiro. Esta é uma das lições primordiais da comunicação.

Olhemos à nossa direita: o CDS-PP. Tinha uma mensagem, um programa, e tinham também comunicação. Nós ficamo-nos pela mensagem. Mas o problema é ainda mais profundo. Erros de mensagem acontecem… mas não derivam numa década fora do poder. Olhemos bem para os resultados de ontem: iguais a 2005. Dois momentos politicos diferentes, dois estilos de liderança que têm tanto a ver um com o outro como o dia da noite e no entanto… o mesmo resultado!

Ontem, tal como em 2005, tivemos o voto FIEL ao PSD. Aquele que não vota em mais ninguém, sem fazer perguntas. O nosso “nicho”. Mas não chega! E escusamos de começar com a guerra “pois, a culpa é de MFL, se fosse ________________ (inserir nome da vossa preferencia) teríamos ganho”. O problema é “estrutural” e endémico ao partido.

Em primeiro lugar, temos um problema base, de falta de estratégia. Alguém, no PSD, se dignou a perguntar “o que é que o eleitor [o consumidor da ‘social democracia’] quer?”. Sentem-se asfixiados? Bem, a julgar pelo resultado, não. TGV? Sim ou não? Daqui é que se define em que tocar e não tocar. Quando há uma crise, as pessoas não querem um partido de poder a falar dia e noite de como as sondagens são más com 30 por cento de indecisos, a democracia é asfixiada… ah e não somos Espanha. E foi isto que passou!

Mas, mais grave: quando um vendedor não sabe aquilo que está a vender, então como se está à espera que ele convença o comprador?! É que afinal, eu não sou o único a não entender bem o que é isto de “Social Democracia Portuguesa”. Há 15 anos que os portugueses também não percebem muito bem! Quem me conhece, sabe que sempre bati nesta tecla: também no pensamento politico temos de nos refundar. A imagem que damos neste momento é de um partido de poder pelo poder.

Falei aqui e aqui disso. Também no conselho distrital de Lisboa, me atrevi a referir este tópico, a uma semana das eleições Europeias. Tal como na altura, tenho a sensação que ninguém vai entender a necessidade de definir o que somos ao eleitorado. O que defendemos. Que se calhar, não somos “social democratas”, e não temos medo de o assumir. Que temos um projecto para o país! Um projecto que não é de esquerda. Que somos um partido que se caracteriza por, embora não confessional, partilhar valores da Democracia Cristã Europeia,  que congrega Conservadores e Liberais, que defendemos um Estado mais pequeno e menos “dirigista” e somos fiscalmente conservadores. Que em suma, não estamos aqui para o poder pelo poder. Que não nos encobrimos com o manto duma pertença ‘social democracia’ [Para quem não entendeu à primeira: Sociais democratas são o burgo ali ao lado que ganhou as eleições!] porque temos medo que o país não vote no projecto que defendemos para o país!

Temos de parar para pensar. Limpar o partido. Reformar a sua estrutura, pesada demais, e desadequada aos tempos que correm. Definir o nosso “produto”, o nosso “projecto” e depois, no fim, arranjar uma estratégia com pés e cabeça para convencer-mos os eleitores a votarem PPD/PSD.

O PP Espanhol esteve uma década fora do poder até se refundar (com Aznar). O Labour inglês teve o periodo Tatchet/Major, quase 14 anos, até aparecer Blair, e refundar o partido. Blair esse que obrigaria os Touries ingleses ao mesmo: 12 anos sem governar, até entenderam, com Ian Duncan Smith e David Cameron, que o problema não eram os eleitores mas sim eles, que tinham uma mensagem má e mal transmitida! Quanto tempo mais vai o PPD/PSD ter de ficar fora dos corredores de S. Bento, até entendermos que temos de parar para pensar e refundar a direita em Portugal?

(Publicado originalmente no Psicolaranja)

Um momento “opps” da “Mudança”!

Na sexta-feira passada Obama achou por bem aumentar as taxas aduaneiras sobre a importação de pneus fabricados na China de 4 para 35 por cento. No fim de semana, a China achou por bem responder, abrindo um inquérito à importação de galinha e peças automóveis, vindos dos EUA.

Estamos a brincar a um jogo perigoso de “Poker” com comércio mundial! Obama não resolveu nada no que diz respeito aos problemas fundamentais do sistema financeiro norte-americano. O problema dos “bonús” era um “não problema”! Não era, nem é, o fundamental.

Todas as semanas, os EUA emitem dezenas de milhares de milhões de euros em Obrigações do Tesouro, ao ponto de a própria Reserva Federal já ter sido obrigado a comprar algumas dessas obrigações. Os chineses são o maior credor dos EUA! Estão sentados numa bomba de reservas em dólares, dólar esse que continua a descer, devido à politica financeira e monetária dos EUA. A última coisa que a crise precisava era que Obama abrisse uma nova frente de combate, com medidas proteccionistas, de modo a satisfazer os “sindicatos de voto” do Partido Democrata!

Os chineses já há muito que questionavam se deveriam continuar a reciclar reservas em dólares – o que financia os EUA, para os mais desantentos! Já tinham começado a financiar-se em moeda local, o mês passado. Agora uma Guerra Comercial? Para os desatentos… a grande recessão tornou-se na Grande Depressão devido a brincadeiras deste tipo.

Já bastava Obama estar a repetir os erros do Japão na resolução da crise, agora repete os erros de 1929 em relação ao Comercio Internacional?!

(Públicado inicialmente n’O Psicolaranja)

Importa-se de repetir?


“Portugal foi objectivamente dos primeiros países a sair da recessão técnica e isto assinala o início da retoma económica”, declarou a mandatária [Carolina Patrocinio], lendo um papel, no parque municipal de Santa Cruz, que ficou apenas a metade da sua capacidade.

Volto de férias (e da UV2009), e leio isto! Devo ter perdido algum episódio, ou faltei a alguma aula de Economia, mas era capaz de jurar que retoma é coisa que ainda não tivemos. Mas, como eu sou uma pessoa simpática e por vezes ingénua, terei todo o prazer em esclarecer a mandatária da Juventude do PS. Ou melhor, a pessoa que escreveu o “papel” a partir do qual ela retirou a fabulosa frase em questão!

Definição de recessão técnica Instituto Nacional de Estatistica (INE): dois trimestres consecutivos de crescimento negativo do PIB, abaixo dos 0,5 por cento. No último trimestre crescemos 0,3 por cento. Logo, estatisticamente, pela definição, sim, já não estamos em recessão técnica (pelo menos até aos próximos… dois trimestres).

Vamos ignorar o que se passa lá fora – que de recuperação tem pouco – em especial no nosso maior parceiro, Espanha. Vamos ignorar que enquanto não existir uma recuperação sustentada do exterior não se pode falar de “retoma económica” em Portugal. Vamos ser simpáticos e focar-mo-nos só mesmo em Portugal e assumir que tudo vai bem no resto do Mundo.

100 por cento de Dívida Externa! Ou seja, podiamos vender o produto de um ano para pagar as nossas dívidas. Não sobrava nada! Isso paga-se, como é óbvio. A esses pagamentos damos o bonito nome de Serviço da Dívida.

Alguém me sabe dizer quanto é que o Estado Português paga por cada euro que pede emprestado? Não? Cerca de 3 por cento por dívidas a 5 anos ou superiores. Alguém acredita que o resto da Economia se pode endividar a menos do que o Estado Português? É que este último sempre tem um certo monopólio: cobrança de impostos.

Não há nem vai haver retoma económica nos próximos tempos. O pouco que crescemos servir para pagar a dívida externa. Se o total da dívida é 100 por cento, então as contas são faceis de fazer: temos de crescer pelo menos 3 por cento para pagar prestações. Menos que isso empobrecemos!

E aqui reside a resposta à pergunta de muitos portugueses! O “porquê” de, durante a última década, termos supostamente crescido mas um povo inteiro queixa-se que está sempre a empobrecer! Em “economês” é a diferença entre Produto Interno Bruto (PIB) e Rendimento Nacional Bruto (RNB).

As manchetes (e os relatórios do Banco de Portugal, por exemplo) referem-se ao PIB, ou seja, por definição, tudo o que é produzido em território nacional. Mas, como grande parte dessa produção é estrangeira, o pouco que se cresce volta ao país de origem. Para os mais desatentos, Investimento Directo Estrangeiro (IDE) também é uma forma de dívida que paga dividendos ao exterior. Se a Microsoft investe em Portugal, no final do ano, repatria os lucros de novo para a sede nos EUA (e aqui reside a razão pela qual nunca gostei da “paixão” nacional pelo IDE).

É aqui que entra o RNB: é tudo o que fica em Portugal! É o rendimento que fica depois de paga a dívida externa, ou os dividendos ao exterior pelo investimento. E esse meus caros psico-leitores, não cresce há quase uma década! E não vai voltar a crescer tão cedo, dado que Portugal está sentado numa montanha de dívida sem tecido produtivo de valor acrescentado! Portugal é hoje, de uma forma simplificada, um castelo de cartas económico…

(Originalmente publicado no Psicolaranja)

Obama e o Médio Oriente

Bom discurso ontem!

Obama tem esta vantagem: é capaz de mostrar a cara mais moderada dos EUA, e tem um “charme político” sem rival. Agora, vamos ver como converte as palavras em “policy”.

Sim, porque não nos vamos esquecer da história. A “Doutrina Bush” não foi inovadora, era apenas a recuperar do “corolário [Theo] Roosevelt da Doutrina Moore” – o conceito de capacidade preventiva de ataque para preservar a segurança nacional dos EUA. É um conceito velho na política externa norte-americano.

Agora, a real politik [peço desculpa aos idealistas, deste lado fala um “realista”]:
Este discurso não resolve 2 problemas… ou melhor, 2 faces de um problema.

Irão – A potência regional que não está a jogar para ser amigo dos EUA. Está a jogar para dominar a região. E tem de ser contido! Um Irão nuclear não é um contrabalanço “racional” a um Estado de Israel nuclear. É o desequilíbrio total num barril de pólvora.

Israel – É preciso entender a doutrina das Forças de Defesa de Israel. Garantir a todo o custo a sobrevivência do Estado de Israel – em especial contra um país que já declarou várias vezes que não reconhece esse direito ao estado judeu. Por todos os meios possíveis! No dia em que eles se virem amarrados contra um Irão quase Nuclear, eles vão tentar bloquear isso, isolados se for preciso. M.A.D., mutual assured distruction, não funciona como inibidor de conflito Irão-Israel, pela simples assimetria das capacidade de reconstrução de cada um dos lados – inexistente no caso de Israel. (Mas isso os autores do The Westphalian Post,  saberão explicar dez vezes melhor que eu).

Palavras são bonitas, mas é preciso converte-las em acções que mostrem seguimento. É um pouco como o Eixo Coreia do Norte-Coreia do Sul-Japão.

A Coreia do Norte anda cada vez mais beligerante a testar armas com cada vez mais potência. A Coreia do Sul junta-se ao acordo de não proliferação atómica que o Norte vê como “acto de Guerra”. O Japão cada vez mais desconfortável pensa seriamente abolir a sua constituição pacifista e rearmar-se face à ameaça. A China ve-se na desconfortável posição de principal apoiante da Coreia do Norte, mas compreensiva perante os receios sul coreanos e japoneses, seus parceiros comerciais.

Uns EUA ausentes – ou com meros discursos bonitos – terão como efeito que a região tomará para as suas próprias mãos a resolução do conflito… com todo o “fel histórico” de séculos de conflito que vem com isso.

Um pouco menos de idealismo e um pouco mais de realismo precisa-se nas relações internacionais!

Democracia, abstenção e problemas de agência

“It has been said that democracy is the worst form of government except all the others that have been tried.”

Sir Winston Churchill

Eu acho piada que se veja a subida dos partidos de extremo como sinal que é “necessário impor certos limites” ou “não tolerar que um político eleito diga o que pensa”. Ou que a abstenção é “preguicite aguda e praia a mais”. Este tipo de raciocinios é comum, nestas alturas do ano, quando nos aproximamos das eleições.

Lamento, mas não é! É sinal de que as pessoas estão muito descontentes com o Estado de Coisas. O “vulgo” Centrão!

É fácil dizer que a “abstenção é vergonhosa”, que é preciso responsabilizar os vontantes, uma carta de principios, voto obrigatório, pelo meio restringir alguns discursos mais extremistas ou politicamente incorrectos, pois não podemos deixar que o eleitor se “desvie da mensagem que deve ouvir”, enquanto se dirige à urna como está mandatado na lei e nos princípios do eleitor.

A Democracia tem o que se chama em economia “problemas de agência”, i.e., os incentivos de quem governa nem sempre coincidem com os incentivos de quem é governado. (para os mais curiosos, chama-se “problema Principal-Agente”, o Agente delega poderes no Principal para função A, o Principal age em proveito próprio B).

A Democracia é, no limite, um “mercado político”, e há muito que sabemos que problemas de agência destroem mercados. (para os mais economistas, lembrem-se: Limões e carros usados!).

As pessoas estão a votar nos extremos ou a abster-se pois é a única forma que têm de tentar “forçar o sistema”! Os extremos são a resposta do “mercado político” à falta de opções e acções correctivas ao centro. Pelo menos num sistema “proporcional”. Num sistema uninominal, o eleitor tem muito mais poder para conseguir fazer passar a sua mensagem, e reduzir os problemas de agência.

E enquanto não entender-mos isto (que não é a obrigar as pessoas a votar que vamos lá, pois isso é sintoma, não a doença), vamos andar aqui muito tempo, com os extremos a subir! No limite, market failure!

PPD vs PSD

Só sabendo de onde viemos podemos saber para onde vamos. No caso do PPD/PSD é preciso avivar a memória: viemos da Ala Liberal da União Nacional, partido único do Estado Novo.

 Nascemos de um grupo de deputados de direita conservadora que queria Democracia e Liberdade em Portugal. E lutou por ela, na Assembleia Nacional, tentando enfrentar um regime fascista que já tinha passado o seu “prazo de validade”. Nascemos PPD (Partido Popular Democratico) e acolhemos sociais critãos, liberais, pequenos empreededores e conservadores democratas. Todos os que não se reviam nem na direita autoritária com grande tradição em Portugal nem no Socialismo – democrático ou não – foram acolhidos neste projecto. Mas depois mudámos de nome: passámos de PPD a PSD (ou PPD/PSD, como Santana Lopes faz questão de relembrar constantemente).

 Foi uma mudança ideológica? Nem por isso. Foi puro taticismo político de um homem [Sá Carneiro] que lutou pela sobrevivência do Partido enquanto tal. A seguir ao 25 de Abril de 1974 ser de direita era sinónimo de ser “fascista” e não era conveniente lembrar quem eram os fundadores do PPD (ex-deputados do Estado Novo), por muito democratas que fossem – e a história veio provar que o eram!

 Ser “social democrata” era a condição essencial para a sobrevivência. Não esqueçamos que estamos a falar dos mesmos que, durante a Ditadura do Estado Novo tentaram reformar e democratizar o sistema político por dentro. Não eram adeptos de revoluções, mas sim de transições, pelo que preferiram garantir que o PSD sobrevivesse e viesse a ser opção ao socialismo do que “morrer por insensibilidade tactica” – risco que o CDS decidiu correr, embora se tenha “pintado” de “centro democrático e social”.

 Para quê esta conversa toda? No último fim de semana, passaram 35 anos desde essa época. Não entrarei em discussões se Abril está para cumprir ou não, ou se ou feriado devia ser o 25 de Abril ou o 25 de Novembro [eu tendo para o último mas considero que, em última análise, não passa de um fait diver]. Pertenço a uma geração que, felizmente, não viveu nem o Estado Novo nem o PREC. Pertenço a uma geração que, por isso, tem o minimo distanciamento para analisar esse periodo de forma correcta e critica, sem desvios. Nascemos em Democracia, vivemos em Democracia, e não admitimos outro regime político que não a Democracia. Não é isso que está em causa – pois se não fosse o 25 de Abril e o 25 de Novembro, eu não poderia estar aqui a escrever.

 O que está em causa é o enviesamento político que ainda subsiste em Portugal. O que eu gosto de chamar de “O trauma da direita”. Ninguém no seu juizo perfeito, rezam as crónicas, admite que é de Direita. Muito menos Direita Liberal Conservadora. Sacrilégio! Fascistas! E, temos várias consequências deste trauma. A primeira é que acabamos a ter dois partidos “social democratas” em Portugal, compondo 85 por cento da Assembleia da República. Um travestido [leia-se PSD] que é forçado a fazer programas social democratas por puro taticismo eleitorial e outro [leia-se PS] que finalmente entrou no seculo XXI. E não se confudam, o Partido ao qual pertence o espaço da Social Democracia é o “burgo ali ao lado”, o Partido Socialista que, finalmente, se modernizou e aderiu à Terceira Via [Comunistas e Bloquistas irão decerto contestar isto mas adiante].

 E isso levou a duas outras consequências: a abstenção nos actos eleitorais [em particular dos jovens] e a deriva do PSD enquanto opção política, desde que, sejamos honestos, perdemos o poder em 1995 – a verdade é que, de 1995 a 2009 não chegámos a governar 4 anos seguidos!

 Guterres tentou colocar o PS na via da Social Democracia Reformista (no sentido europeu do termo) mas faltou-lhe pulso. Pulso que, gostemos ou não da personagem em questão, Socrates teve. E isso colocou o PS a governar na área onde o PSD costumava ocupar. E dado que nunca assumimos o nosso “corpo ideológico”, herdado desde a fundação, andamos à deriva dos lideres. Toda a gente sabe que, no que diz respeito ao PSD, o lider faz o partido. Se o lider é forte o partido torna-se forte [e esta é a minha esperança com Ferreira Leite], se o lider é fraco o partido enfranquece. Não temos um corpo de ideais que assumamos: esta é a nossa opção! 

E, mais importante que isso, não temos uma opção verdadeiramentealternativa ao socialismo, hoje operado sob a forma de Social Democracia Reformista (favor ver SPD alemão, Partido Trabalhista inglês, PSOE espanhol, e muitos outros). Um verdadeira Direita Liberal em Portugal. Alguns estarão neste momento a pensar “isso não é o PSD… somos um partido Social Democrata Reformista, não um partido ‘democrata cristão'”. É mesmo? Somos mesmo isso, ou habituamo-nos ao “rótulo” e ao “taticismo eleitoral” porque não nos queremos assumir e sabemos que a actual formula – até recentemente com o ‘recentrar’ do PS – funciona? Quem é capaz de contestar o seguinte, como principios defendidos por todos os militantes do PPD/PSD: 

O homem é explorado quando se sente asfixiado pelo aparelho burocrático do Estado;

O homem é oprimido quando, por qualquer modo, lhe é vedada a liberdade interior, ou a abertura ao transcendente espiritual;

O homem é oprimido quando a sua vida privada não decorre com a necessária intimidade;

O homem é explorado, a qualquer nível, quando é sujeito ao exercício tirânico da autoridade ou a imposições abusivas de minorias activistas;

O homem é explorado quando a sua consciência de pessoa é abafada pelas massas ou é objecto de manipulações da sociedade de consumo.

Contra todas as formas de exploração e de opressão, urge lutar, mobilizando as múltiplas conquistas do progresso, com vista a uma nova ética da vida em colectividade.

 Os mais rápidos dirão que isto é o programa do PSD. Desenganem-se… Os mais atentos identificaram de onde vem a citação acima: são os principios da Democracia Cristã europeia, a base fundadora dos partidos de Direita Liberal na Europa. E estão correctos! Somos um partido fiscalmente conservador, económicamente liberal e, com maior ou menor grau, mais ou menos moderado, socialmente conservador. Somos, na nossa essencia, um partido de Direita Liberal e Democrata Cristão. Um “Partido Popular”. Ou acham que foi por mera coincidência que o lugar onde encontrámos “casa” na Europa foi, em primeiro lugar o Partido Liberal Europeu e, desde Marcelo Rebelo de Sousa, o Partido Popular Europeu?

 E depois queixamo-nos que o Povo Português se queixa que “entre o PS e o PSD, só mudam as moscas” ou que os jovens não votam [para quê votar quando, no final do dia, a solução acaba a ser a mesma?]. A única diferença prática é que governamos a Diesel: somos mais baratos e económicos!

 Deixemo-nos de ilusões e assumamos aquilo que somos. Um partido de Direita! Refundemos a Direita em Portugal [e, sejamos honestos, somos o único partido à direita que tem massa critica para esse empreendimento] e deixemo-nos de traumas. A direita sabe ser tão democrata como a esquerda. Esta última não tem o monopólio do Social. Simplesmente advogamos formas diferentes de chegar ao mesmo objectivo. E talvez, só talvez, exista uma faixa da população, que comece a votar. Pois, no estado actual de coisas, uma enorme faixa de pessoas de direita liberal não votará porque não vê a sua “opção prática”. E se calhar o Povo Português – bem mais sábio do que julgamos ou queremos admitir – tem toda a razão quando diz que PS e PSD são iguais. Este último, por mera tactica de poder.

 Não é saúdavel ter um sistema político centrado à esquerda. A balança deve estar centrada. Isso implica uma Esquerda moderna e democrata, ou Social Democrata, e uma Direita moderna e democrata, ou Direita Liberal. E é deste conflito, desta concorrência que se encontram as soluções para o país, não entre um Partido Socialista convicto e um Partido Social Democrata “assim-assim”, embora por dentro, não acredite na mesma, ao ponto de inventar a “Social Democracia Portuguesa”!

 Porquê este discurso todo num blog de um militante da JSD? Porque julgo que esta tarefa nos compete a nós, juventude. Não virá do Partido, demasiado agarrado a lutas pelo Poder ou traúmas do passado recente. Virá da nova geração que não ganhou traumas [para nenhum dos lados] e por isso tem o espirito critico para empreender esta tarefa. Uma geração com ideias diferentes que decerto terá a coragem de ter as “dores de parto” desta iniciativa. E deixo aqui um repto ao Gabinete de Estudos da JSD. Sem malicia, ou gincana política, desafio a actual CPN [que apoio e ajudei a eleger enquanto congressista no último Congresso Nacional] de criar um grupo de trabalho para este tópico: Refundação. Repensar a política, dar um corpo ideológico ao PPD/PSD, assumir aquilo que somos e, se calhar, voltar às origens: voltarmos ao PPD!

 Porque, e para terminar que o Post já vai longo, não o fazer poderá acarretar ficarmos fora do Governo durante muitos mais anos. O PS finalmente evoluiu e isso implica que temos, nós PPD/PSD, que nos assumir e evoluir também. No processo, completar o último passo para uma democracia saudável, uma democracia centrada e não enviesada. E cabe à JSD fazer jús ao repto que Emidio Guerreiro nos lançou: cabe à JSD ser a linha avançada do PSD e a sua consciência critica!

Carta Aberta ao prof. Dr. Carlos Santos

Ontem escrevi um post – Gastar para sair da crise…? – onde me insurgi (“no pun intended”) contra a política de continuar a tentar resolver a recente crise como “mais estimulos”, “eurobonds” e políticas semelhantes. Referi-me, a um post particular do Dr. Carlos Santos – OCDE apela ao BCE para combater a crise – não se discuta a Europa, não… – onde, pelo meio surgiu um pequeno mal entendido com a pessoa em questão, que teve a gentileza de me deixar um comentário que reproduzo, e ao qual irei responder.

Serviu o pingback para encontrar o seu blog. O que já não foi mau. Pena mesmo foi a linguagem: “explicar para idiotas” e “doutoramento em Macroeconomia”. Primeiro porque corria o risco de alguém lhe devolver o epíteto. Segunto, porque para seu azar eu tenho um grauzinho desses.

Aqui, o mal entendido. O “explicar para idiotas” não se referia ao autor do post em questão, mas sim uma forma sarcástica de me referir a “não economistas” (sou fã da serie “for dummies”, traduzindo “para idiotas” e, por influência materna, sofro de um elevado grau – talvez elevado de mais – de sarcasmo “britânico”). Obviamente que se fosse o meu objectivo insultar, não tinha “linkado” ao post em questão – sei perfeitamente bem que os blogs fazem ‘pingbacks’ frequentes dos links de uns aos outros – e ter-me-ia referido, a querer ser insultuoso, à área de formação do professor em questão: Doutorado em Econometria, pela Universidade de Oxford, facto que estava perfeitamente ciente muito antes de ter escrito o Post. Em segundo lugar, não considero azar meu algum que tenha esse grau académico (grau que não detenho mas faço tenções de o deter). É uma honra ter um Doutorado por uma Universidade de prestigio como leitor deste humilde blog. Espero que tenha lido, e gostado, dos restantes posts deste blog – são quase 5 anos de Posts, verdade seja dita…

Pondo estas coisas de lado, gostava que o seu brilhante raciocínio conseguisse explicar o seguinte:

– só não entraram em insolvência porque estão no Euro. Boa. Mas então porque se conclui que a Irlanda, que está no Euro, demorará 5 anos a recuperar?

Que a Áustria, que tem o equivalente a 70% do PIB emprestado a leste, precisaria de uma política monetária própria se entrar um desses países em default? Porque teve a Espanha de salvar Domingo o primeiro Banco?

E já agora, porque se estima que os EUA, que não estão no Euro, saiam da crise em 2 anos?

– outra nota, a Alemanha que idolatra está na sua maior recessão do pós guerra;

– e quanto aos esquemas de Ponzi, a dívida pública é por definição um encargo inter geracional. É chato para as gerações futuras. Mas prefere isso ou deixar-lhe um mundo falido?

Ora, dado que tenho respeito intelectual pela pessoa em questão – embora não concorde com as suas posições em matéria de política económica – não me atrevo sequer a pensar que o comentário acima é alguma forma de paternalismo académico com perguntas retóricas à mistura, com um objectivo “jocoso”. Não me atrevo sequer  a ponderar essa hipotese. Como tal não me passa pela cabeça, agradeço o elogio, antes demais. Não é todos os dias que tenho um Doutorado por Oxford a chamar a este humilde blogger “brilhante” e vejo as perguntas como um desafio intelectual de Economista para Economista. Desafio que terei o maior prazer em aceitar.

No primeiro tópico, a Irlanda, creio que estamos a falar de coisas distintas. Em lado algum deste blog – e como referi, são quase 5 anos de Postsme poderá ler a argumentar que não estamos numa época recessionária. É impossível ter-se a maior economia do mundo – os EUA, que correspondem a um terço da economia global e o maior consumidor do mundo – em recessão e não termos efeitos no resto do mundo. Alias, nunca fui nem sou defensor da famosa teoria do “Decoupling”, ou seja, que seria possível termos uma recessão nos EUA e termos o resto do mundo alegremente no seu “próprio mundo”. Eu falei em falência, ou seja, ir fazer companhia à Islândia. Se a Irlanda tivesse a sua própria moeda, com a sua próprio Banco Central, então estaria neste momento falido. Tal como a Austria, acrescente-se.

Não entremos em tecnicalidades como, por exemplo, que uma reestruturação de dívida é, para efeitos de por exemplo contratos de cobertura de risco como Credit Default Swaps, um “default event” – e esse facto está a ser reflectido nos spreads desses instrumentos. A Irlanda era – e continua a ser – um “importador liquido de capital”. Se tivesse moeda própria estaria com uma dívida externa altissima, denominada em “moeda estrangeiro” – euros por exemplo. Ora, passivos denominados em moeda estrangeira são impossíveis de gerir por um banco central nacional pois, no limite, ele não pode imprimir o seu caminho para fora da crise (e já voltaremos a esta questão). Quando a crise se tornasse óbvia a Irlanda, como país com deficits correntes continuos, teria um grave problema bancário a nível sistémico. A este nível, o sector bancário é o intermediário entre o deficit entre consumo e produção e é dependente – altamente dependente – de financiamento externo.

Tal como a Islândia o era, e todos vimos como esse triste filme acabou. Por muito que o banco central e o governo tentasse – e tentou aguentar a moeda no “cambio fixo” com menos vida útil da história e garantir depósitos – pura e simplesmente não haveria financiamento para os passivos que se prentendiam. A moeda é a primeira a cavar um “buraco até ao outro lado do planeta”. Pode ser argumentado – para a Irlanda e a para a Aústria – que tendo política monetária autónoma poderiam descer as taxas de juro, desvalorizar a moeda e assim, dar um incentivo à actividade económica. Logo, esta desvalorização forneceria uma “vantagem competitiva” ao país em questão.

No entanto, temos dois problemas: em primeiro lugar, com a “vantagem competitiva” vem também o aumento do serviço da dívida, em activos denominados em moeda estrangeira, pois o stock de dívida é “nominalmente” fixo – dai a deflação ser problemática para o sistema económico, como Irving Fisher demonstrou à mais de 70 anos atrás. No limite a questão é se a actividade económica é estimulada rapido o suficiente para comepensar esse aumento dos custos de serviço de dívida – e o consequente aumento dos custos de novos financiamentos. 

No curto prazo, uma descida do valor nominal de uma destas “moedas independentes” face ao Euro forneceria um incentivo, pois os custos internos são também nominalmente rigidos no curto prazo, pelo que, uma depreciação nominal é uma depreciação real, pelo menos no curto prazo. No entanto, a verdade é que, para a economia típica da Zona Euro – incluindo os mais “problemáticos” casos de Portugal, Espanha, Grécia, Irlanda, … –  o problema são rigidez reais. O efeito do “incentivo” seria de vida curta, quando além do serviço da dívida acrescido, o efeito de maiores custos (via importações) começassem a fazer “feedback” pelo sistema de preços. No final do dia, teriamos a Islândia versão II, III, …

Uma pequena moeda num contexto de Finanças Globalizadas de pouco serve para amortecer choques assimétricos. E a Islândia é o exemplo acabado desse facto. Portanto, sim, o Euro está a salvar a Irlanda da falência. O que não quer dizer que não aja custos para essa protecção – menos flexibilidade monetária – ou que a correcção vá ser pequena fruto dos excessos do passado – embora seja incorrecto atribuir a culpa inteiramente em ideias “neo liberais”, pois os Irlandeses tinham “planos de investimento público” a 10 anos. O último tinha sido divulgado em 2005. Mas essa discussão fica para outro post. 

A questão dos “70% do PIB emprestados a Leste” em nada suporta a questão da política monetária própria. Pois, se a Austria tivesse política monetária própria, no minuto em que um país a Leste entrasse em default arrastaria automáticamente a Austria para a mesma situação. Ninguém financiaria uma pequena Austria, na sua própria moeda, face a um evento dessa magnitude. Ter-se-ia, pura e simplesmente fuga de capitais, tal como se assistiu fuga de capitais do leste europeu, monetáriamente autonomo, para a Zona Euro. Logo, o Euro fornece um mercado liquido e profundo para emissão de dívida. Dado que não existe união fiscal, o mercado incorpora os riscos individuais de cada Estado-Membro no spread que cobra. Mas os Estados podem sempre emitir dívida, e sabem que, a única questão é preço e que nunca terão um investidor a dizer “não quero pois isso não vale o papel onde está impresso”, como seria o caso de um pequeno país com moeda própria.

Mas confesso que a sua questão “E já agora, porque se estima que os EUA, que não estão no Euro, saiam da crise em 2 anos?” me surpreendeu bastante. É que, comparar – que presumo que não era a sua intenção… escrita rápida? – países membros da Zona Euro com os EUA é comparar maçãs com laranjas – como saberá melhor que eu, dai pensar que não fosse a sua intenção a comparação – pois nenhum país da zona euro corresponde a 1/3 do PIB mundial nem nenhum dos seus bancos centrais emite a moeda de reserva mundial.

Vou assumir que a pergunta tinha como pensamento subjacente não a pertença, ou não, à zona Euro, mas sim as diferenças no modo de ataque à crise, i.e., grandes estimulos “keynesianos” versus a posição mais conservadora da Europa. Antes de começar coma discussão, só esclarecer um facto: o meu suposto “liberalismo absolutista” não é ‘ideológico’. Não sou nem Austriaco nem seguidor da “praxeologia”, e por isso, gosto de me suportar em modelos e dados. Vamos só a um exercicio simples antes de voltarmos à discussão dos “estimulos” (peço desculpa aos mais matemáticamente desinteressados).

Podemos escrever uma simples equação para a despesa de consumo de indivíduos(P), como rendimento(I, depois de impostos) menos poupança(S) menos actual serviço de dívida (A, divida acumulada em tempo t, a multiplicar por uma taxa de juro, i) mais novo endividamento (derivada de A em ordem a t):

equa1Usando dados dos EUA, a maior parte dos rendimentos reais ajustados à inflação não se têm alterado desde os anos 70. Uma implicação simples deste “aplanar” dos rendimentos reais, é que, se olhar-mos para o ratio (P/I) poderemos isolar os efeitos da inflação e teremos uma boa medida da capacidade real de “compra” dos consumidores. Logo, temos:

equa2No que diz respeito à taxa de juro efectiva, para efeitos de serviço de dívida, já foi notado por diversas ocasiões que nos EUA o melhor “proxy” para essas taxas é a benchmark 10 Year Note (figure 4), que usarei como referência (multiplicada por uma constante epsilon a ser determinada). Vemos também pelas figuras 2 e 3 que, a) P/I tem sido razoavelmente constante de 1960 a 1990 e que a partir dessa data começa a subir, por contrapartida de S/I, taxa de poupança.

pi1si1i10t1

Falta-nos ver (A/I), o peso da dívida no rendimento e a sua evolução ao longo do tempo t. A equação em {2} pode ser reescrita como:

equa31E, como A é maior que dA/dt por duas ordens de magnitude, o lado direito da equação dá uma estimativa aproximada de (A/I):

equa41A expressão {4} pode ser vista no gráfico seguinte:

ai1Podemos ver, com dados dos EUA, que de 1965 a 1990 poucas alterações há no ratio, para depois começar o seu crescimento até aos dias presentes. Ora, voltando a olhar para o gráfico 4, vemos que 1990 é o inicio da descida, até aos actuais minimos quase históricos na taxa de juro. Uma época “propricia” a um boom de crédito. Ora, eu não faço a argumentação de que a “culpa” está somente na Reserva Federal Norte-Americana. Baixar a Fed Funds só por sí não seria suficiente para fazer descer o resto da curva, pelo contrário! No entanto, normalmente ignora-se o efeito “moeda de reserva”. Grandes produtores e aforradores, cujo maior cliente são os EUA, são forçados a fazer Reservas em dólares para manter as suas moedas “subavaliadas” e artificialmente “competitivas”. Na prática, isto equivale a estender crédito aos EUA, sendo as receitas das vendas de produtos ao consumidor norte-americano reclicados de novo para o mercado obrigacionista norte-americano, depressionando as taxas de juro, criando mais incentivos ao crédito, ao consumo e as novas exportações dos países produtores. É equivalente a um produtor financiar o consumidor dos seus produtos com crédito para pagar crédito para…voltar a pagar crédito. Evidentemente, não estamos a falar de um sistema sustentável e, em parte, o “Neo-Mercantilismo Asiatico” ajudou a este “sarilho actual”. Mas, regressando ao ponto em questão: a forma da curva em questão na figura 5 sugere um crescimento “logistico”, semelhante ao crescimento usado para modelar populações restritas. 

Com esse framework em mente – logistic growth equations – podemos reescrever:

equa51seguido de:

equa61onde:

equa71

A taxa efectiva de acumulação de dívida é “gerida” por Reff e o pico de dívida ocorre em tempo t1/2. Saltei alguns passoas matemáticos senão isto deixava de ser um post e passava a ser um Paper. Temos, no final, a seguinte equação, tendo em conta {2}:

equa81A0 é o nivel “inicial” de dívida, e Am o nível máximo de dívida atingido em determinado tempo t. 

Moving allong, vamos a uma regressão de minimos quadrados, para ver como se ajusta aos dados:

pi-ols1ai-ols1

Ora, descontando para a volatilidade natural de series, temos de admitir que temos uma boa aproximação à realidade. Sugere também que o “pico da dívida” ou melhor, do ritmo de acumulação de dívida, foi atingindo em 2005, curiosamente o ano em que o imobiliário norte-americano começou a virar em direcção a “sul”. Com isso em conta, vamos extrapolar dois cenários. O primeiro é simples: taxa de poupança mantêm nos níveis actuais (próximos de zero) e as taxas de juro continuam nos minimos históricos actuais. Durante bastantes anos, acrescente-se. O resultado é:

baseline1

Não é propriemente bonito. Depois de uma queda inicial de cerca de 5 por cento, deixa de haver crescimento na capacidade de compra dos consumidores. Estamos, para efeitos práticos, com um consumidor “zombificado”, numa economia que vale 70% consumo. Bem vindos ao “Novo Japão”?

Mas será razoavel assumir que isto é um cenário realista?

É que, tal como um consumidor “normal”, um Estado não está imune a esta dinâmica. Muito pelo contrário. O ponto aqui não é “se o multiplicador keynesiano existe, ou não” ou se é de “1,5 ou 3”. Como diriam os americanos, “The juri is still out on that one”! O meu ponto é que os países do mundo desenvolvido actual estão a fazer “trapézio sem rede”. É que, vamos acentar um facto: o Japão tinha 30% de taxa de poupança, tinha um “mercado” onde emitir a dívida pública, compradores para tal. Os EUA começam a não ter. E para se ter noção disso, teremos de ir ver os dois maiores compradores de dívida pública dos EUA: fundos monetários dos EUA e Bancos Centrais a fazer reservas em dólares (notavelmente, a China, o grande “elefante na sala”). No campo dos últimos, basta observar o “crescimento das Reservas” para termos um pequeno sinal de alarme:

cofer-end-08

Ora, numa altura em que os americanos se preparam para emitir biliões e biliões (europeus, 12 zeros) de obrigações do Tesouro, ter a procura a “desfalecer” não é o melhor dos sinais. Fora o desconforto já verbalizado, de muitos países “credores”, em continuar a financiar os EUA. Não preciso de uma bola de cristal para saber o que vai acontecer ao dólar e, por consequência, ao valor de décadas de reservas feitas numa única moeda – algo que se tem provado altamente destabilizador.

Sobra o segundo maior comprador de Dívida Pública, os fundos de mercado monetário. Mas, não há pior ambiente possível para os fundos monetários que Quantitative Easing. A forma de funcionar de um fundo de mercado monetário é parquear o dinheiro num instrumento seguro com juros, cobrar uma fee de funcionamento, e entregar ao cliente alguma coisa. Com taxas a zero, em Quantitative Easing, os fundos monetários ficam (potencialmente) abaixo da “marca de água”. E mesmo que não ficassem, os clientes deles são o comum dos americanos. E supostamente, não os queremos a poupar, mas sim a consumir…logo não deverão andar a colocar dinheiro nos fundos monetários!

É uma simples questão de “funding”: não há poupança suficiente para suportar estes estimulos sem uma correspondente subida nos juros do mercado… a não ser que a Reserva Federal monetize a dívida pública, e portanto, imprima notas para comprar dívida pública. Podemos discutir, ou não, se um aumento da massa monetária conduz a mais inflação. Já uma vez colocou no seu blog, numa “luta com O Insurgente”, um gráfico onde provava, para o UK, que essa relação não existe. No entanto, não explicou, se estaria a levar em conta o efeito deflaccionário da entrada dos países do bloco de leste e da Ásia, como produtos bastante baratos fruto da mão de obra também barata, não estaria a “ofuscar” o efeito da massa monetária em circulação.

Mas o que não podemos negar é que, mesmo admitindo que massa monetária e inflação não estão interligadas, não se pode admitir que os investidores de obrigações do tesouro irão ver monetização com bons olhos. O dólar abriria, potêncialmente, uma cratera, com todas as consequências de ser a “moeda de reserva mundial”. E estamos a ignorar que, os Estados estão nos seus respectivos limites de dívida, tendo em conta contigent liabilities como segurança social e serviços de saúde. O serviço desta dívida corre o risco de se tornar insuportavel, ou citando Martin Wolf, “o Governos Ocidentais são ‘pitons’ a tentar ‘engolir hipopotamos'”. 

E para terminar, que este post já está excessivamente longo – alias, julgo que quebrei o meu record pessoal, e não sou conhecido pelos meus dotes de sintese – podemos argumentar e contra-argumentar os estimulos keynesianos. Mas não podemos ignorar aquele episódio da história, que supostamente não era possível acontecer: o Japão. Já vamos em 20 anos de taxas de juro coladas a zero e n estimulos económicos. E nunca conseguiram tirar a economia japonesa dum estado de “coma latente”!

E, quem melhor para citar, para terminar este post, que um economista japonês:

Bad debt is the root of the crisis. Fiscal stimulus may help economies for a couple of years but once the “painkilling” effect wears off, US and European economies will plunge back into crisis. The crisis won’t be over until the nonperforming assets are off the balance sheets of US and European banks.

Keiichiro Kobayashi, Senior Fellow at the Research Institute of Economy, Trade and Industry

Espero ter esclarecido mal entendidos, de onde vem o meu suposto “liberalismo absolutista” – que não é ideológico – e espero continuar a te-lo como leitor – tal como eu o leio a si. Volte sempre!

Citações curiosas… (VII)

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É bom saber que ainda existe pelo menos um líder mundial lúcido…

“This crisis did not come about because we issued too little money but because we created economic growth with too much money, and it was not sustainable growth.”

Angela Merkel, Chaceller alemã

E, num momento “dois em um”, um pequeno aviso a todos os advogam mais estimulos, quando os anteriores falharam (como por exemplo, os japoneses, que já vão em quase 20 anos de “estimulos económicos”…sem grande sucesso acrescente-se):

 Insanity is doing the same thing over and over again and expecting different results!

Albert Einstein

Gastar para sair da crise…?

Como se financia isto tudo? Uma solução seriam os Eurobonds. Mas como a Alemanha não quer, continuaremos em recessão em 2010, ano em que se prevê a viragem nos EUA para a recuperação. E sabe-se lá quanto tempo mais…. Experimentem repetir isto a um absolutista do mercado livre e que ache que o Estado já tenha peso a mais. Eu aposto no insucesso da tentativa. Por isso nunca entenderão porque é que as estruturas económicas da Europa estão desenhadas de modo a ampliar os efeitos desta crise.

Carlos Santos, Eleições 2009

A ver se eu consigo explicar isto para idiotas: a Eurobond é uma ideia bonita que trará como consequência a médio prazo o fim do Euro. E para aqueles que dizem “so what?” a resposta é simples – a única razão pela qual Portugal ainda não faliu (ou a Espanha, ou a Grécia, ou a Irlanda…) é devido ao Euro.

O problema aqui é simples. Demasiado simples. Recompensar comportamentos irresponsáveis. Obviamente que a Alemanha não quer, porque a aAlemanha sabe muito bem quem vai pagar o preço. Os países prudentes da Zona Euro vão pagar a festa dos “irresponsáveis”. No strings attached. Isso é, na sua essencia, a Euro Bond. (obviamente que não exige um doutoramento em Macroeconomia para entender que se estamos a obrigar os prudentes a pagar pelos imprudentes, estamos a incentivar os prudentes a deixarem de o ser… se alguém me conseguir provar que isso é bom, pago-lhe um gelado!)

O problema em muitos países actualmente (EUA em particular) não é o preço do dinheiro – i.e., taxas de juro. O problema é insolvencia de balanços pessoais. Os particulares pura e simplesmente já não têm mais capacidade de endividamento. Consumimos hoje os nossos rendimentos futuros, em conjunto com os dos nossos filhos e netos. A solução é ir ao rendimento dos bisnetos?

Esta “deificação da dívida e do crédito” como maná do crescimento económico, parece um pouco como o mito do “motor de movimento perpétuo”, ou seja, um motor que gera mais energia do que aquela que consome. Obviamente impossível, pois viola o principio da Conservação da Energia. Nada se cria, tudo se transforma, é o principio base. O mesmo para a economia: crédito não é mais que rendimento futuro adiantado ao presente. Não é “dinheiro novo”, é uma transferencia inter-temporal. Não se criou nada, transformou-se, de amanhã para hoje. Obviamente que, se transferir-mos demais, do futuro para o presente, quando chegar-mos ao “futuro” temos pouca coisa. 

Tentar ir sempre adiantando o “futuro” para o presente é a essencia de um esquema em pirâmide, um “Esquema de Ponzi”! Eventualmente, a componente de juros é tão alta, que “afoga” a economia. Esta deixa de conseguir suportar o serviço da dívida. É aqui que estamos actualmente.

O “suposto Pai” desta fúria desenfreada de gastos públicos, Keynes, não concordaria com o que se está fazer. E para aqueles que continuam a citar Keynes a torto e a direito, sugiro que o leiam. Em especial, que se inteirem de um facto – Keynes não criou o conceito de “despesa deficitária do Estado”, ou seja, o Estado correr deficits para “incentivar a Economia, em especial o Consumo”. O inventor deste conceito foi um dos seus alunos, Abba Lerner. E depois de aceitar o argumento “conceptual” do seu aluno, Keynes acrescentou:

“but heaven help anyone that tries to put it across.”

Euro bond

No passado fim de semana, fui dar uma volta à Curia, para assistir ao encerramento da Universidade da Europa 2009 e receber o meu diploma pela frequência da Universidade da Europa 2008. No almoço com João de Deus Pinheiro – de balanço do trabalho dos deputados do PSD no Parlamento Europeu – a dada altura, é dito pelo orador, numa referência ao eurodeputado Silva Peneda: “Um eurodeputado muito respeitado, que propôs recentemente uma ‘Eurobond’, e eu [João de Deus Pinheiro] ainda não ouvi um bom argumento contra”. Eu tenho um problema de personalidade grave: não resisto a este tipo de desafios, em especial quando dizem respeito a Economia e, embora não saiba se algum eurodeputado costuma andar pela “Blogósfera”, fica aqui o meu “argumento contra”.

O que é a Euro Bond? Simples: emissão única e centralizada de dívida pública. Em vez de haver dívida pública alemã, espanhola ou portuguesa, emitida por cada Estado Membro, passa a haver um único emissor de dívida pública, um “instituto de dívida pública europeu”. Porquê? Citando directamente do site do PSD Europa, o proponente Silva Peneda argumenta:

Segundo Silva Peneda, para haver mais investimento é necessário que “crédito seja acessível e barato, mas tudo aponta para que nos próximos tempos ele seja escasso e muito mais caro parapaíses mais vulneráveis, como é o caso de Portugal.”

Estes países enfrentam dificuldades acrescidas de financiamento pelo que Silva Peneda defende a possibilidade de passar a haver, a nível da zona euro, um único emitente central de dívida pública europeia, que é, aliás, o cenário mais compatível com a sustentabilidade do euro a longo prazo. 

O crédito para Portugal está mais caro? Sim, está. A última emissão de dívida pública portuguesa foi vendida com uma taxa de juro a rondar 4,5% quando os alemães, por exemplo, pagam pouco mais de 3%. Diversos países – notavelmente o “Club Med” i.e., Itália, Grécia, Portugal e Espanha – estão a pagar mais pelas suas obrigações. As taxas de juro de longo prazo na Europa estão a divergir. “AH! Então é preciso corrigir isso… não faz sentido que na Zona Euro cada um pague uma taxa diferente, para bem da estabilidade do Euro”, estarão alguns prontos a responder.

Pois, aqui reside o centro da questão: é que isto é a correcção, não algo a corrigir. É que há uma confusão comum quando se fala de Moeda Única: numa zona monetária o Risco Cambial – ou seja, que a moeda de um país se dirija para “sul” e,  se o país for muito endividado ao estrangeiro, leve a economia à bancarrota (favor ver Leste Europeu para um exemplo muito prático e demasiado actual!) – é substituido por Risco de Crédito. O primeiro – risco cambial – não desaparece…é transformado em risco de crédito. E este último é um pouco mais facil de gerir. 

Traduzindo em “lingua de gente”: não vamos à falência por cambios, mas se nos endividamos demais ficamos mais pobres relativamente aos parceiros e pagamos mais juros! O facto de estarmos na zona Euro, garante-nos um mercado para colocar a nossa dívida muito mais “profundo” e “estavel”, o que não aconteceria se ainda tivessemos o Escudo. Na nossa situação actual, e tendo o Escudo, não teriamos grande oferta de crédito. No Euro temos oferta que chegue e sobra, simplesmente temos de pagar um pouco mais.

É preciso regressar a 1998 para entender-mos uma questão com o Euro. Quando a zona Euro é criada existe um medo justificado e partilhado por muitos economistas: que a maior parte da zona face “free riding” ao risco alemão. Ou seja, que o mercado assuma que, numa crise, a Alemanha safa todos. Muitos economistas argumentaram que a zona Euro não iria sobreviver por isto… era como que um “almoço gratis” que ia ser dado. Países como Portugal, que no inicio da década pagavam taxas de juro a dois digitos iriam poder endividar-se às “taxas alemãs”, que rondavam os 3 por cento. E neste sentido sim, o Euro foi um incentivo ao endividamento.

Foi por esta razão que se criou o Pacto de Estabilidade e Crescimento – que, nota de rodapé não era estúpido e se tivesse sido cumprido como estipulado não estariamos a ter esta discussão. Era preciso garantir que os Estados aderentes à moeda única tinham uma “regra legal de estabilidade orçamental” e, numa época de crise, teriam espaço e credibilidade orçamental para estabilizar as suas economias.

“Pois Guilherme… isso aconteceu porque não existiu unidade orçamental e unidade politica numa união monetária, pelo que a emissão única de obrigações é a solução!”, costuma ser a resposta que me é dada. Mas ignora a história. Não é a primeira vez que a Europa tem integração monetária. Império Austro-Hungaro (1867-1919) é o exemplo mais próximo do que temos hoje no Euro: muitas regiões com um enorme grau de autonomia politica e financeira, duas monarquias fiscalmente sem união, e uma moeda única gerida por um banco central supra-nacional com um mandato único para garantir a estabilidade dessa mesma moeda e proibido de salvar regiões ou alguma das monarquias. Familiar não é? Pois… bastante! Resultou? Bastante bem, para a época. A moeda era estavel, o Império beneficiou de enorme desenvolvimento económico, mesmo na face de muita tensão nacionalista interna. Só uma coisa fez ruir esta união monetária: a Primeira Guerra Mundial. O Império foi desintegrado pelos Aliados no pós-Guerra (Tratado de Versailles) e lá se foi a União Monetária da Dinastia dos Habsburgo.

Moral da história? Uma União Monetária não precisa de ter como base uma união política e fiscal. Necessita sim de uma regra que obrigue os Estados Membros a uma política de credibilidade fiscal. Esta regra pode ser legal – Pacto de Estabilidade e Crescimento, exigido pela Alemanha aquando da sua entrada no Euro – ou de mercado – a regra no Império Austro-Hungaro e o que está a ocorrer hoje na Europa. A última é simples: países mais irresponsaveis pagam mais até corrigirem as suas trajectórias. E isto é essencial à estabilidade do Euro. Na ausência de um destes mecanismos – e note-se que o PEC já não é um mecanismo credivel, pois ninguém o cumpre, cumpriu, pois ele era “estúpido“! – sofreremos o mesmo destino de uma outra união monetária do final do seculo XIX: a União Latina (Espanha, Grécia, Itália, Sérvia, Suiça, Lichenstein, Venezuela, França, Estados Papais). Esta ruiu exactamente porque não havia união fiscal e não havia nenhuma regra.

Voltando à Euro bond: a proposta visa eliminar este mecanismo de taxas de juro e caminhar para a União Fiscal. Ora, nem a primeira é desejável nem a segunda é necessária para a estabilidade do Euro a longo prazo. Uma euro bond é basicamente pedir um “subsidio” aos alemães. Nós pagamos menos em taxas de juro – eles pagam mais, pois os riscos estão agregados – e deixou de haver incentivos para a prudência. “Para quê se podemos sempre, em crise, pedir aos alemães, em última análise, que paguem a nossa festa?”, será o pensamento do dia.

E para aqueles que me vão responder que União Fiscal e mais União Política serão sempre mais estaveis que este sistema de “regras”, eu respondo muito simplesmente: Numa União Monetária existe dois riscos de estabilidade – fora factores externos como Guerras Mundiais – risco horizontal e vertical. Horizontal é o risco que temos sem União Fiscal e muito autonomia de cada membro. A solução passa por regras – legais ou de mercado. A Vertical é que, numa união fiscal e política não homogénea, como seria a UE se avançamos por este caminho, se corre o risco de abusos fiscais do “centro” ou pelo menos, medo desses mesmos abusos, que formam expectativas que desestabilizam a Estabilidade da Moeda!

Ou seja, na fuga para a frente e na fúria de fazer algo para combater a crise, arriscamo-nos a plantar as sementes do fim do Euro.

Citações curiosas… (VI)

Para hoje, uma citação para os meus colegas de profissão – Economistas:

The human mind cannot grasp the causes of phenomena in the aggregate. But the need to find these causes is inherent in man’s soul. And the human intellect, without investigating the multiplicity and complexity of the conditions of phenomena, any one of which taken separately may seem to be the cause, snatches at the first, the most intelligible approximation to a cause, and says: “This is the cause!”

Leo Tolstoy in Guerra e Paz

Hayek tinha razão: Peak Debt

Agora é que me vão dar um tiro: “Um economista feito a dizer que Hayek tinha razão? Sacrilégio”. Pois é, mas da mesma forma que eu concedo alguns pontos a Keynes – economista que eu considero ter sido largamente mal lido e interpretado – Hayek também tem bons pontos. Um deles é o que acontece depois de uma sobre-expansão do crédito, alimentado por uma mistura de cambios e taxas de juro – “administradas” por um Banco Central.

A dívida tem um pico “máximo”. É impossivel continuar a financiar dívida com dívida ad eternum, pois na essência estamos na presença de “Ponzi Economics”. Charles Ponzi é o pai dos esquemas em pirâmide modernos. O problema destes esquemas é que exigem um ritmo crescente e exponencial de entrada de novos “participantes”, de modo a não ruir. O crescimento atinge eventualmente uma barreira – no limite, o número de seres humanos a habitar o planeta – e colapsa. Isto é relevante porque, um dos pressupostos que é utilizado na “modelação económica” é o pressuposto “No Ponzi Game Condition”, i.e., um agente tem de respeitar a sua restrição orçamental e não pode usar dívida para financiar dívida continuamente.

Quando se paga dívida com dívida, está-se na essência, a adicionar novo stock de dívida ao presente, com contrapartida do rendimento futuro.  “A teoria de Ponzi” entra em jogo quando eu nunca chego “ao futuro”, e vou sempre compensando com mais dívida para o futuro – seja do meu rendimento futuro, seja da geração a seguir a mim, num modelo inter-geracional.

Quase que consigo ouvir alguns leitores a pensarem: “Guilherme, quando um Estado faz isso, só tem de garantir que a economia cresce, e fica tudo bem.” E eu respondo: aqui está a principal falácia do Keynesianismo Moderno – não confundir com Keynes, pois como disse, foi largamente mal interpretado.

Quando um agente usa dívida para pagar dívida, ele está, para efeitos práticos, a fazer crescer o seu stock total de dívida e, por consequência, o seu stock total de juros. Se ele fizer isto continuamente no tempo – o que os economistas gostam de dizer “No limite…” ou seja, quando a brincadeira tende matematicamente para infinito – o stock de dívida cresce exponencialmente, face ao rendimento. Mesmo que o rendimento- leia-se a Economia – cresça a um ritmo constante, temos aqui um problema de dinâmica: para manter este sistema, o ritmo de crescimento da dívida têm de crescer também.

Para quem me perdeu na frase anterior: Se a economia deriva o seu crescimento do consumo e se o consumo deriva o seu crescimento do stock de dívida actual, então para a Economia crescer a dívida tem de crescer. No entanto, como estamos a adicionar mais dívida, estamos a aumentar a componente de juros desse stock total, pelo que, a única forma de “manter tudo constante” é aumentar o ritmo de endividamento. No entanto, tal como num esquema em pirâmide existe um limite à velocidade do crescimento do endividamento e quando este para – basta qeu o ritmo de endividamento se torne cosntante – e chegamos a um pico de dívida.

Como estamos num pico – o stock parou de aumentar – uma economia totalmente orientada ao consumo – como são as ocidentais – deixa de crescer. O stock de dívida torna-se então “grande demais para a Economia”. Ponzi Economics! O resultado é parecido com um esquema de Ponzi: o colapso da “montanha” por não haver mais “participantes” (ou mais dívida, neste caso). O futuro passa a ser agora, mas o serviço da dívida é pesado demais.

Isto não se soluciona com mais consumo ou incentivos, pois o problema é que já não se é capaz de manter um ritmo crescente de endividamento. “Inflacionar-mo-nos para fora da crise” também não funciona. Esta é a teoria de alguns que argumentam que a inflação é a solução. Dado que o stock de dívida, em termos nominais é fixo, se os preços subirem, o stock em termos reais desce. No entanto, esta-se a ignorar que, para isso acontecer é necessário inflação a 2 digitos e essa vai causar uma súbida das taxas de juro no mercado, pelo que, se por um lado o stock diminui em termos reais, por outro os pagamentos de juros aumenta. Não há almoços gratis! [O mesmo caso se pode fazer com a Deflação. Irving Fisher, economista “esquecido”, tinha razão quanto ao problema da deflação: Numa deflação não há uma mera transferência de riqueza de devedores para credores, há destruição de balanços. Dado que os preços descem, o stock real de dívida está a aumentar – lembrem, em termos nominais ele é fixo – esmagando balanços com dívida sempre crescente. A dinâmica de Fisher era simples: aumento do stock de dívida real por deflação, venda de activos para pagar, depressão dos preços dos activos o que iniciava um ciclo em cadeia de activos continuamente a preços mais baixos a suportar sempre mais dívida em termos reais].

Moral da história: qualquer uma das “supostas soluções” tem maus resultados. Seja deixar a deflação funcionar – que como se em Fisher, é catastrófico – quer seja “inflacionar o nosso caminho para fora da crise” – como advogam alguns keynesianos – tem o mesmo resultado: implosão de balanços. Obras públicas e estimulos fiscais dão o mesmo resultado. 

Por isto é que Hayek tinha razão: muito cuidado quando se brinca com os incentivos [monetários] de uma Economia. A distorção pode ser [foi] de tal ordem que se arrisca colocar a Economia numa situação de onde é impossível sair sem enormes custos – leia-se, recessão em L ou Depressão! A uma bolha de crédito não há saída. Ou se cria uma outra bolha para compensar [que foi o que se fez durante quase 20 anos] ou, passando o pico de crescimento de dívida, o sistema dá de si…

PS: Não, não sou austriaco, embora tenha algumas simpatias intelectuais por alguns dos conceitos expressos por essa escola, como por exemplo, a questão referida neste post.

Frases que gostava de ter escrito

E com as quais concordo e já pensei bastantes vezes:

Apesar de tudo isso, é preciso bater no fundo. Infelizmente, é assim mesmo. E porque a maioria dos portugueses ainda não bateu no fundo, nada vai mudar tão cedo. Muitos têm empregos precários, mas sustentados, privilégios caducos, mas mantidos, à força do hábito e da lei. Enquanto uma parte substancial da população portuguesa não perceber que o seu modo de vida não tem condições para continuar e não estiver disposta a prescindir do agora, para o depois. A renunciar hoje, para receber amanhã. A pensar mais nos filhos e na geração que vem depois, nada se vai fazer que não seja uma pequena anestesia para aliviar a dor. E sem dor, é como se sabe.

André Abrantes Amaral, O Insurgente

Quantitative Easing

Aqui há uns meses, quem falava de Quantitative Easing era maluco. Agora parece que Quantitative Easing virou “Desporto Monetário Internacional”! Honestamente, espero que o BCE não caia nesse erro – a Reserva Federal dos EUA e o Bank of England já caíram, e ao faze-lo, arriscam-se ao mesmo resultado do Japão: estagnação económica ao longo de décadas.

Pela enesima vez: A doença aqui é sobre-endividamento e sobre-consumo alimentado por politica monetária demasiado expansionista e rápida! Advogar isso como solução é o equivalente económico a dizer “a cura para a ressaca é beber mais uma garrafa”! Já discuti esta questão ad nausium. O ponto a reter é que a capacidade de endividamento para consumo tem limites. Está-se a antecipar rendimento futuro para consumo presente logo, no futuro vai ter de se consumir menos e poupar mais, i.e., temos uma recessão. E os analistas podem-me mostrar o que quiserem, que enquanto andarmos entretidos com a actual Macroeconomia e o Modelo DSGE – usado em Bancos Centrais para prever a economia e definir políticas – não vamos a lado nenhum, pois está baseado em pressupostos que oscilam entre o irreal e o ridiculo – e fornece conclusões engraçadas. [Para quem está a perguntar “Modelo quê?”, favor ver “Na eventualidade de ter um abre latas”]

Temos um 2 bigs pictures a não ignorar:

a) Estamos no limiar de um “Grande Rebalaceamento”. Temos uma Economia Ocidental que consome demais, produz e poupa de menos, e o oposto na Ásia. No meio, câmbios que são mantidos “fixos”, que alimentam os desequilíbrios. Isto tem de parar. E está a parar: a produção industrial do Japão, por exemplo, caiu dum penhasco abaixo. “Porque ninguém está a comprar”…sim é verdade. Não é um processo imediato, é um processo que demora o seu tempo: reafectação de capital e factores. Não se constroem fabricas do dia para a noite, a economia não muda de estrutura do dia para a noite. Por isso é que temos recessões, tal como quando estamos doentes temos febre: não é a doença, é o indicador que o organismo está a tratar dele próprio.

b) Tivemos um almoço gratis na Europa Mediterranica: andamos a “usufruir” das taxas de juro alemãs, o que deu sobre-endividamento. Agora, temos que pagar a conta e o mercado está a subir spreads para impor disciplina fiscal. Obviamente que ninguém gosta de ficar a pagar festas, logo queremos que 1. o BCE desça as taxas o mais possível, 2. que a Alemanha pague a conta por nós, que eles são porreiros e foram responsáveis, logo têm dinheiro. Ok, indo ao Quantative Easing: O que é? Imprimir dinheiro, basicamente. Um banco central desce as taxas de juro a zeros no curto prazo, e vai ao mercado de obrigações comprar obrigações que fixam as taxas de juro mais “alargadas”. O objectivo é que a curva de juros [euribor a 1 dia até taxa de juro a 30 anos] seja plana e, preferencialmente, o mais próximo de zero possível.

Porque é que é um erro e o que é que o Japão tem a ver com isso? É que eles tentaram isso, e foi por isso que os bancos demoraram décadas a recuperar!

Matemática de Balanço de Bancos, aula 1:
Um banco com capital próprio próximo de zero pode não estar insolvente. Basta para isso que consiga ganhar mais no activo do que aquilo que perde no passivo. O negócio base dos bancos é simples: brincar com a curva de juros. Têm passivos de curto prazo, activos de longo prazo. Com a curva é normalmente inclinada, i.e., taxas de longo prazo são maiores, eles ganham mais do que pagam. A questão é se o que eles ganham no activo pode compensar a sangria que estão a ter no passivo.

Por isso é que é bom quando existem crises que o mercado imponha maiores taxas de juro. Por um lado, força os consumidores a parar com o endividamento e segundo ajuda os bancos a reconstruir balanço, para o próximo ciclo.

Porque é que Quatitative Easing é um erro? Porque o banco ganha o mesmo que paga, logo, se tem perdas, não recupera balanço. Se não recupera balanço, retrai-se de emprestar dinheiro e fica “zombificado” até recuperar. O que pode levar décadas!

Criam-se incentivos à “pilhagem”: garantias, bailouts, dinheiro dos contribuintes a ser (mal) gasto, prémios mal pagos e casas de banho de 1 milhão de dólares. No final, quem paga a factura é o Estado.

Avançar para este tipo de política é fugir à realidade, atirar a bola para a frente e tem como consequência uma recessão em L: a economia contrai, mas nunca volta a crescer até o sistema financeiro reconstruir o balanço. Japão – 1992-2002. E sim, temos de esperar, pois, a Economia como sistema tem uma caracteristica base: em sistemas complexos a informação é assimétrica, logo é necessário especialização. [ignorem por dois segundos que os economistas assumam que a informação é sempre simétrica… no “aquário, a coisa funciona”].

Moral da história: um “Japão” europeu ou americano vai ser desagradavel. Eles têm a politica social do emprego para a vida – em troca de trabalharem que nem uns cães – e tinham uma “tonelada” de poupança para usar em construções de pontes para lado nenhum. Nós não temos! Temos mercados laborais mais flexíveis – em troca, não trabalhamos que nem uns cães…

Parafraseando um colunista do Finantial Times – Martin Wolf – “Os governos ocidentais parecem Pitons a tentar engolir rinocerontes”. A última que tentou foi no Burma: rebentou. 

E, a brincar a brincar, de demagogia em demagogia, é para lá que caminhamos…

“Na eventualidade de ter um abre latas”

Sabem porque é que Deus criou a Economia? Para fazer com que os astrólogos fizem-se boa figura! E se colocarem um economista num ilha deserta com uma lata de conservas e sem ferramentas, e lhe perguntarem como é que ele vai comer, ele irá responder: “na eventualidade de ter uma abre latas…!”

Piadas como as duas anteriores são constantes. E merecidas, verdade seja dita. Uma das primeiras coisas que aprendi na faculdade foi a frase mágica Ceteris Paribus, i.e. “tudo o resto permanecendo constante“. É a principal ferramenta na toolbox de um economista. “E se não permanecer constante?” perguntaram alguns. Eu respondo, enquanto economista, que se permanecer, Ceteris Paribus, o modelo funciona

Qual é o ponto que quero fazer? A disciplina da Macroeconomia necessita de uma grande revolução. Andámos durante décadas a martelar modelos, a “leva-los à cave, bater-lhes um pouco até que eles se portem bem”, ou melhor, se portem como nós queremos que eles se portem. Algum problema, a culpa é da realidade.

O principal modelo utilizado em Macroeconomia, para análise de medidas e políticas é o DSGE – Dynamic Stochastic General Equilibrium. Tanto os “Novos Classicos” como os “Novos Keynesianos” o usam como framework base. A única diferença entre estas duas escolas dominantes é ao nível do que os economistas gostam de chamar “rigidez nominal”, ou seja, pequenos ‘entraves’ no curto prazo que, por exemplo, tornam a política monetária eficiente no curto prazo, se for inesperada. Qual é o grande problema deste modelo? Os pressupostos sobre o qual é construido.

Mercados Completos. Este é um dos principais pressupostos do modelo. O que quer isto dizer? Quer dizer que existem mercados para todas as contigent claims possiveis para todos os estados possíveis da natureza. *uff*. Grande frase para significar o seguinte: com os activos actuais, todos os futuros resultados em todos os potenciais futuros podem ser replicados. Isto é um grande pressuposto: se é verdade que com os activos actuais eu posso replicar grande parte dos futuros resultados de estados provaveis no futuro, o conceito de Mercados Completos vai um passo mais longe: eu conheço todos os futuros momentos da distribuição de probabilidades. Ou seja, eu sei a probabilidade de todos os acontecimentos futuros. Nestes mercados, todas as restrições orçamentais são cumpridas por defeito, não há falências ou insolvências. 

Como consequência, falta de liquidez é impossivel no modelo [existem sempre activos, agentes e mercados para replicar fluxos de caixa], a não ser que o Economista “martele” um pouco, e introduza alguma “rigidez”.  Mas mais grave: o modelo não responde a questões de insolvência pois não permite que estas sejam colocadas. Por definição, estas não existem, i.e., todas a restrições orçamentais são cumpridas. “Não era mais lógico começar-se por uma ‘Economia sem Mercados’ e ir adicionando?”, perguntaram. Sim, mas a hipotese de “mercados completos” torna a vida do académico mais facil, não tendo de colocar a questão de iliquidez, insolvência e falência dos agentes. [Note-se que, sendo o tempo continuo, e sendo que Mercados Completos implicam mercados futuros para todos os bens presentes, o caso torna-se uma impossibilidade prática:  demasiados “mercados potênciais”, infinitos para ser mais especifico].

Mas o mais grave nem é isto, mas sim o facto deste pressuposto ter por base outro: todos os agentes cumprem os seus contratos. E se não cumprirem? Ceteris Paribus, vão cumprir, dirão os mais teóricos. Se o mundo parar de girar, o Sol não nasce… Isto é mais problemático do que parece, em comércio intertemporal: o valor do contracto tem, implicito, que ele é cumprido, logo, se agentes suficientes não o cumprem, o valor pode tornar-se negativo, colocando um agente para além da sua restrição orçamental. Também nos leva a porque é que são precisas recessões e perdas: é um mecanismo interno de aprendizagem e penalização dos agentes por violarem os seus contractos. Tentar mexer neste mecanismo é extremamente perigoso.

O segundo grande problema deste modelo é o Leiloeiro. Confesso que esta “figura” sempre me fez uma confusão desgraçada. É basicamente um artificio que os economistas arranjaram para garantir o equilibrio a longo prazo. O preço de um activo financeiro amanhã, é um misto do preço de hoje e da expectativa do preço amanhã. O mesmo para amanhã, e para o dia seguinte. Ou seja, no limite, o preço previsto é a soma de todos os momentos futuros desse activos, ad infinitum. Dirão alguns que estudam Economia: “Isso é um problema de optimização matemática dos agentes”. Bem, não exactamente. Em programação matemática é necessário, para isto funcionar, que o futuro distante não tenha efeito no critério de optimização de hoje. É como se o “programador” tivesse uma bola de cristal. É ai que entra o “leiloeiro”: ele é o “agente” que garante isto mesmo, que “anuncia os preços” e garante a “condição de transversalidade”. Traduzindo para português, o “leiloeiro” garante que o futuro não interfere na condição de optimização hoje, logo essa optimização é o equilibrio. Daqui se desenvolve a Hipotese dos Mercados Eficientes, entre outras “belezas”.

Para quem está confuso, é isso mesmo que estão a pensar: os economistas assumem que existe um “Planeador Central com informação perfeita” para garantir o equilibrio geral numa economia descentralizada de mercado. A ironia disto claramente perdeu-se nos corredores de faculdade.

O último grande problema é a linearização de um mundo que é tudo menos linear. Verdade seja dita, quando a base começou a ser feita [inicio do seculo XX] ainda não tinhamos as ferramentas matemáticas para lidar convenientemente com realidades não lineares e/ou caóticas. Mas o mundo evoluiu, a Matemática evoluiu… e a Economia ficou na mesma!

Os modelos não lineares foram “linearizados” num “estado estacionário”. Depois, são lhes dado “choques”, para ver como o modelo – a economia – reage. O problema é que estes choques são “bem comportados”, i.e., são “ruido branco”. Ruido branco é ruido com média e variancia conhecida, e que tende para zero no longo prazo. Se tende para zero, pode saltar do modelo e ser ignorado. Ah! Já me esquecia: os choques são aditivos e independentes, logo não há “feedback loops”, acontecimentos que se reinforçam mutuamente.

Mas, existe uma “consequência não pretendida” disto tudo: quando se dão choques aleatórios e aditivos a um modelo com “foward looking expectations” – ou seja, os agentes optimizam para o futuro, e o leiloeiro está lá para dar uma “maozinha” – o resultado ou é um modelo com flutuações explosivas ou – e aqui vem a parte boa da coisa – um modelo estável, com uma tendencia central de longo prazo, e leves flutuações à volta desse equilibrio. Não existem recessões em L (queda do produto abrupta seguida de estagnação). Apenas agradáveis recessões em V [quedas de produto seguidas com crescimento mais rapido de volta ao equilibrio). Conveniente não acham?

Moral desta história “triste”: está na altura de dar-mos um passo atrás para podermos dar dois passos em frente. Voltar a modelar a economia, mas sem estes pressupostos loucos, com mais realismo, por muito que sejam modelos mais complexos de manipular matemáticamente. Em vez de mercados completos como pressuposto de saída, comecemos sem mercados, numa Economia Robinson Crusue “pré-Sexta-Feira”. Deixemos cair o dogma microeconomico de que os agentes não violam as suas preferências individuais e são perfeitamente racionais. Não o são e violam consecutivamente as suas preferências, o que não violam é as suas ancoras, o que explicaria porque é que tantos investidores se meteram no subprime: criou-se a ancora mental do “bailout”. Se alguma coisa acontecer, o Estado vem salvar. E os investidores optimizaram em função dessa ancôra.

E deixe-se de viver de Dogmas em Economia. Isto é uma ciência, não uma religião!